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E lá se vai mais uma Copa do Mundo


RAPHAEL SANZ

A Copa acabou. E junto com ela toda a atenção praticamente exclusiva da imprensa e da população ao futebol. Esta segunda-feira foi uma espécie de “quarta de cinzas” do futebol global. Teremos de esperar mais quatro anos para presenciar outro evento futebolístico deste porte, com a vantagem para nós, pentacampeões, de que será realizado no Brasil.


Espanha e Holanda fizeram uma final de Copa de Mundo inédita no último domingo. Uma final em que a Espanha, com gol de Iniesta no segundo tempo da prorrogação, entrou para o seleto grupo das nações campeãs mundiais. E pela primeira vez na história, uma final foi feita sem as presenças de Alemanha, Itália, Brasil ou Argentina. Ambas as seleções finalistas iniciaram o torneio como possíveis candidatas ao título – a Espanha mais que a Holanda –, mas as duas eram consideradas bons times que poderiam surpreender; e surpreenderam.

Verdade seja dita: elas chegaram até a final com placares apertados, mas talvez esse tenha sido seu maior trunfo. Diferentemente, por exemplo, de Brasil e Alemanha, que venceram as oitavas (e a Alemanha também as quartas) por placares elásticos para depois perderem a vaga para os futuros finalistas.

A campanha da Fúria e o bom futebol da Alemanha

A Espanha perdeu para o ferrolho suíço na estréia e passou a ser muito criticada e, então, do dia para a noite, não era mais considerada aquele time da Eurocopa que encantava. Mesmo vencendo Honduras pelo placar mínimo, ainda corria o risco de não se classificar. O time espanhol precisava vencer o Chile de qualquer maneira e até metade do segundo tempo, o placar não apontava gols. Até que numa saída errada o goleiro, Villa abriu o placar, que terminou apontando 2×1 para a Fúria.

Nas oitavas e nas quartas, eliminou pelo placar mínimo Portugal de Cristiano Ronaldo e o Paraguai de Larissa Riquelme, respectivamente, dois times muito bem organizados e que contavam com bons jogadores. E novamente pelos pés de Villa. Vale lembrar que a Paraguai ficou em primeiro no grupo da decepcionante Itália, que sequer se classificou. Tirar a vaga do atual campeão não é pouca coisa.

Na semifinal encontrou uma máquina alemã, que havia tirado nada menos que Inglaterra e Argentina com duas goleadas por 4×1 e 4×0, dando aulas de futebol. Uma Alemanha extremamente organizada taticamente e que ainda contava com uma gama de talentos individuais tais como Scheweisteiger, Podolski e os novatos Özil e Müller, que fizeram com que Ballack não deixasse nenhuma saudade na esquadra tricampeã.

Uma seleção alemã que era a sensação da Copa pelo futebol de alta qualidade que jogou e que, com as previsões do famoso polvo e a esperança de um país que hoje se abre à diversidade e que tal abertura se reflete na seleção, despontava como franco favorito após eliminar a Argentina de Maradona e ver a Holanda tirar o Brasil.

No entanto, na semifinal, com o toque de bola e marcando pressão, a Espanha não deixou a Alemanha jogar e conseguiu um gol de cabeça no segundo tempo. Um gol feito com a raça de um time marcado pela técnica. E quando um time se reinventa com tanta maestria, concluímos que ele tem cara de campeão. E realmente tinha! Deixou para trás o oportunismo de Villa e os passes de Xabi para se classificar com uma cabeçada do pequenino Puyol que surgiu como um raio no meio da gigante defesa alemã, após cobrança de escanteio. E assim, para a alegria de castellanos, andaluzes, asturianos, catalãos, bascos, galegos, cantabros, valencianos e aragoneses, a Fúria conseguiu na África do Sul o que nunca havia conseguido antes.

A Laranja Mecânica chega à final jogando um futebol burocrático

A Holanda, que estava invicta até a final, já começou a primeira fase com três vitórias incontestáveis: 2×0 na Dinamarca, 1×0 no Japão e 2×1 sobre Camarões. Em primeiro lugar do grupo, enfrentou o bom time da Eslováquia, de Vittek, Hamsik e Skertel que derrotara a então campeã Itália em uma das melhores partidas da Copa e se classificara.

Para a tristeza dos eslovacos, o placar já apontava 2×0 para a Holanda quando Vittek deixou sua marca já nos acréscimos e não havia mais tempo para a equipe do leste europeu reagir. Uma pena a Eslováquia ter deixado a Copa tão cedo, pois também era um time muito bem organizado e que contava com pelo menos um bom jogador em casa setor. Além de toda a tradição dos anos 50 e 60, herdada da antiga seleção da Tchecoslováquia.

Nas quartas, a Holanda derrotou um Brasil desequilibrado e mal convocado pelo técnico Dunga, mas que havia saído em primeiro do seu grupo após vencer Coréia do Norte e Costa do Marfim e empatar sem gols com Portugal. Com a lesão de Elano, Dunga não tinha mais opções para compor o meio com jogadores ofensivos. O que se escuta dos brasileiros é que Dunga convocou Ramires e Kleberson como meias, posição que eles definitivamente não ocupam. Após um excelente primeiro tempo, vitória parcial dos canarinhos por 1×0 e até um segundo gol anulado. E a Holanda voltou desacreditada para o segundo tempo.

E o jogo seguia truncado e cheio de provocações, até que a infalível defesa brasileira cometeu um erro grotesco em que o goleiro Júlio Cesar e o volante Felipe Melo bateram cabeça e uma bola cruzada por Sneijder foi para as redes sem sequer ser finalizada por nenhum atacante. Um gol grotesco, no mínimo. Daí em diante, o Brasil se entregou. Só deu Holanda. Kaká sumiu. Não havia mais ninguém para jogar com ele na armação, só volantes. E, para piorar, o mesmo Felipe Melo foi expulso após uma falta desproporcional e desnecessária em Robben. E então, em cabeçada de Sneijder, a Holanda virou o jogo, e Dunga, precisando vencer, tirou Luis Fabiano, sua referencia no ataque, para colocar Nilmar que nada fez. E o placar não mudou mais. A Holanda então enfrentaria o Uruguai nas semifinais.

Uruguai volta a ter projeção mundial

Um Uruguai que além de ter o melhor jogador da Copa, com todos os méritos que merece, ainda por cima voltou ao cenário futebolístico mundial nessa Copa. E com muito respeito. Um Uruguai que sem badalação, sem muito dinheiro, sem essas coisas modernas do futebol, chegou nas semifinais à moda antiga: na raça, no coração e no amor a camisa. E haja emoção para os Uruguaios.

Na estréia empatou sem gols com a decepcionante França e depois de vencer a anfitriã África do Sul por 3×0 e o México por 1×0 se classificou para a outra fase. Uma seleção de operários com um jogador desequilibrando em cada posição: o capitão Diego Lugano fazendo uma parceria monstra com Godin na defesa, Arévalo Rios e Perez jogando como leões na volância, Forlán, o maestro, ora no ataque, ora recuado para atuar como armador e lá na frente, o excelente atacante Suarez. E foi dele o golaço aos 35 do segundo tempo que desempatou o jogo contra a Coréia do Sul e deu a classificação para as quartas.

Ele dominou na esquerda, na entrada da área, cortou para o meio tirando o marcador da jogada e então arrematou no outro canto, colocando uma bela curva na Jabulani. Um golaço. Foi de Suarez o primeiro gol, aos 8 minutos do primeiro tempo. A Coréia havia descontado aos 23 da etapa complementar, mas com o segundo gol de Suarez, a vaga foi para os bicampeões.

Nas quartas, o Uruguai enfrentou todo o continente africano que torcia por uma vitória da seleção de Gana, seu último representante na competição. Em jogo tenso e muito disputado, a seleção de Gana chegou ao seu gol nos acréscimos do primeiro tempo com Muntari. No segundo tempo o Uruguai chegou ao empate com Forlán aos 9 minutos. E o jogo seguiu disputadíssimo até o final.

No último minuto do segundo tempo da prorrogação, Gana faria seu gol da classificação, mas o atacante Suarez bancou o goleiro e defendeu a bola com as mãos. Pênalti para os africanos e Suarez expulso. Estaria fora das semifinais. A cobrança do astro Gyan bateu no travessão e depois foi para fora para delírio da torcida uruguaia e o juiz terminou a partida decretando que aquela vaga seria decidida nos pênaltis. E nas cobranças o Uruguai venceu por 4×2, ganhando o direito de enfrentar a Holanda na fase seguinte.

Uruguai e Holanda se enfrentaram em um jogo curioso. O Uruguai jogou melhor, com mais toque de bola e mais volume de jogo que a Holanda. Mas os holandeses foram mortais. No inicio do primeiro tempo, van Bronckhorst acertou uma cacetada de fora da área e abriu o placar, mas Forlán, também de fora da área, empatou em seguida. No segundo tempo o Uruguai manteve o controle do jogo com muito toque de bola, mas não oferecia perigo ao goleiro holandês.

E fazendo valer um velho ditado do futebol, o Uruguai jogando melhor, não fez seus gols e então os tomou. Primeiro aos 25 com Sneijder e três minutos depois em bela cabeçada de Robben entre os zagueiros uruguaios. A partir daí a Holanda tentava segurar a bola no campo de ataque enquanto o Uruguai se jogava para o ataque utilizando toda a garra que sua camisa carrega. Até que aos 46 minutos, Maxi Pereira recebe na entrada da área e bate no contrapé do goleiro: 3×2. Mas não dava mais tempo para a América ter seu representante na grande final.

Toda Copa tem seu fim

Na disputa de terceiro lugar, nova derrota Uruguaia por 3×2, dessa vez para a Alemanha, em jogo emocionante que teve duas viradas. A Alemanha saiu na frente aos 18 minutos com Müller, mas tomou a virada Uruguaia com Cavani aos 27 do primeiro tempo e Forlán aos 5 minutos da etapa final. Jansen e Khedira foram os autores da segunda virada aos 10 e aos 36 da etapa complementar, respectivamente.

Na final, Espanha e Holanda fizeram um jogo aquém das expectativas, mas ainda assim um jogo digno. A Espanha tocou a bola e envolveu a Holanda, enquanto esta se preocupava em bater e intimidar os espanhóis. Como classificou o craque holandês dos anos 70 Johan Cruyff, quando afirmou ao jornal catalão Periódico de Catalunya que a atuação holandesa foi “feia, vulgar e dura”. Cruyff era o capitão da Laranja Mecânica que chegou a final da Copa de 74 jogando um futebol marcado pela técnica e pela variação de posições entre os jogadores, um estilo de jogo muito diferente da Holanda que vimos na África do Sul.

E a historia da semifinal holandesa quase se repetiu, uma vez que a Espanha, apesar do domínio, não conseguia finalizar com perigo, enquanto a Holanda perdia dois gols mais do que feitos com Robben, um deles, um milagre protagonizado por Iker Casillas na meta espanhola. O jogo foi para prorrogação e não preciso repetir aqui o que todos já sabem. Espanha campeã com todos os méritos.

E assim o título da Espanha, a bela campanha Uruguaia, o futebol bem jogado da Alemanha, o choro da paraguaia Larissa Riquelme e o polvo que acertou todos os resultados os quais lhe perguntaram, ficarão todos na historia. Aguardemos mais quatro anos.

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